novembro 22, 2011

UM SÓ ABRAÇO

Para ela nada mais importava. Desistira de tudo e de todos. Exatamente, tudo perdera o sentido. Sonhos alcançados, trabalhos realizados. Horizontes esquecidos, amores perdidos. Nenhuma desculpa para mudar de idéia e não cometer o que havia em sua mente. Seria um descanso. Nada de dor, nada de perda. Iria continuar a sonhar, só que apenas dormindo. Dormindo assim, eternamente ao berço da morte.

Lágrimas se espalham em seu rosto, sem conseguir contê-las. Que inúteis são as lágrimas e que raios de ser humano era? Onde está aquela atmosfera durona que ela criara? Onde está aquele ser aficcionado em excluir sentimos que personificara? Pois é, ainda restam resquícios do pouco ser sentimental que ela fora durante anos, um tipo de ser que agora recusa-se em existir que está presente indevidamente.

Uma única idéia percorre na mente dela. Esta que insistentemente avisa a hora de surgir em prática. Está destinada a isto. É como se tivesse vivido para esta finalidade. Escolhe seu lugar, sua altitude e seu desejo. É para isto seu destino, é para isto sua fuga.

Seus olhos se abrem e conforme o ritmo de sua intensidade, seus braços se mexem ao encontro da luz. Não está mais sonhando e sim, presente, cada vez mais presente ao encontro do destino final. Um pulo, apenas um pulo e nada mais.

Mas ela estava ali. Aquela outra que pensara que havia a esquecido. Estava olhando tudo em sua volta, principalmente a Lucy. "Não vá embora, porque estou aqui", sussurrou ao seu lado, bem no exato momento onde tudo terminaria ali. Ou quem sabe, Lucy havia de existir noutro lugar. Quem sabe mesmo existiria outro horizonte que lhe pudesse proporcionar uma luz melhor. Mas não, agora se dava conta que ela também estava ali ao seu lado e tomando-a com afeto em seus braços.

"Lucy não vá embora", disse sussurrando mais uma vez. Foi quando a Esperança impediu seu ato e mostrou-se a mais presente possível, de maneira a qual jamais havia visto, sentido ou escutado.

Uma energia lhe foi tomada, tão sublime, tão pura e tão doce. Palavras eram insuficientes para sua descrição. Tudo em sua volta agora era protetor, mágico e duradouro. Era como se nunca tivesse existido. Era como ter nascido naquele exato momento. Era como ter sentido o calor da luz pela primeira vez. Não haviam palavras, só um sussurro diante de um abraço aquecedor acolhendo-a inteiramente ao seu ser, sua alma e toda sua dimensão.

Certo dia Lucy confessou, qual seria seu último desejo em vida e ela havia respondido. Um abraço. Exatamente isto. E nada mais.

A esperança esteve presente naquele que seria seu último momento, mas que tornou-se, acima de tudo, o renascer de uma vida que abriu mão em recomeçar, mais uma vez, em mais um momento, de maneira simples e intensa.

(Joyce Martins)