novembro 05, 2012

ATRAVÉS DO ESPELHO, UMA JANELA


A mesma mão que dedilha a caneta,
ao tocar confuso no papel,
Lá fora, o vento aquece a manhã,
E ela cobre seu rosto com um véu,
Não pela vergonha, não pela dor tamanha...

Sentada e em solo ausente,
Recorda-se da violência aparente,
Inchada e despedaçada, por dentro e por fora,
Mas que bela hora ousou tentar sorrir?

Seus dentes quebrados,
Já não doem tanto mais
Do que o pesar de sua mente,
Cada vez mais doente da loucura
Que nunca soube enxergar,
E somente agora, compreensiva de si mesma,
Tenta lutar com o fantasma existente,
Consciente e inconsciente,
Chorando e secando lágrimas,
Capaz de sentir mais nada...

Nesta vida nunca vivida,
somente de sonhos, vagando,
diante desta cerca difundida
e nunca amiga,
Liberta-se, de vez, rumo ao mundo afora,
desta gaiola que agora, desfaz-se
inteiramente em pedaços...

(Joyce Martins)