agosto 15, 2012

NO LIVRO MÁGICO DE BARBARELLA

Christine, uma estudante do colegial passava horas estudando numa grande biblioteca que ficava no centro de sua escola. Pela manhã tinha que aguentar aquelas horas de aula intermináveis de física, matemática ou química, tudo aquilo parecia desprezível para ela, por que teria aprender tantas ensinamentos inúteis, ela se perguntava. O que mais gostava era das aulas de literatura e as de história. Tudo parecia maravilhoso saber de uma nova história ou de um acontecimento que existira e tivera feito parte da humanidade. O mundo das histórias era fabuloso para Christine, mas infelizmente ela tinha que voltar a se concentrar naqueles intermináveis problemas matemáticos e inúmeros exercícios que faziam preencher quase todas as páginas de seu caderno.

Talita era a melhor amiga de Christine, aliás, já estudavam juntas desde crianças e a amizade era regada a muitas horas de conversas e diversão, faziam tudo juntas, até mesmo, estudar. Christine tinha grande facilidade com as palavras, já Talita era mais expert em números e isto se tornava um equilíbrio entre as duas, o que uma tinha dificuldade, a outra a ensinava.

Numa tarde dessas, Christine tinha ido estudar na biblioteca após fazer uma pausa para o almoço no refeitório da escola com sua amiga, ambas estavam pensando como elaborar um trabalho que a professora de Geografia havia passado e teriam que descrever sobre uma cidade distante de qualquer continente, um lugar que ninguém talvez tenha ouvido falar em conhecer, explicando junto a sua cultura e seus costumes.

Como faziam tudo juntas, Christine e Talita começaram a pensar na ideia do trabalho, haveria apenas um detalhe, aquela pesquisa deveria ser individual e Christine ficou triste , à princípio, era a primeira vez que fazia algo sem Talita, queria poder assinar aquele trabalho junto ao nome de sua amiga, no entanto isto não a impediu delas pesquisarem em conjunto.

Indo para casa mais tarde, Christine tomou um banho e foi brincar com Blade, seu cachorro de estimação, que adorava passar horas dormindo em seu colo, enquanto ela escrevia em seu diário na cama. Seus pais passavam o dia todo fora de casa trabalhando e Christine acabava os encontrando somente bem tarde da noite ou até mesmo quando eles chegavam em casa, já estava dormindo em seu quarto e seus pais nunca tinham tempo para conversar com ela.

A vida de Christine estava voltada para escola, os livros, aos cálculos matemáticos, a preocupação com o vestibular, enfim, só restava a companhia de sua melhor amiga, sem ela talvez sentiria completamente sozinha.

Pela manhã, como de costume, Christine foi ao colégio, tudo estava tão calmo, sem parecer ter nenhuma novidade, aquela escola parecera tão pacata e sem movimento, só restava o lugar aonde se sentia mais tranqüila e em harmonia: a biblioteca. Aquele era um lugar mágico, o melhor lugar do mundo para Christine, aonde poderia se sentir bem, como se sentisse está flutuando dentro de um universo de paz e de união.

O resto da escola era um lugar bonito, haveria apenas um problema, o qual Christine não sabia descrever o por quê das pessoas parecerem tão frias, sem uma ligar com as outras, ninguém conseguira fazer amigos verdadeiros, ninguém conseguira se reunir para um bom debate, os professores pareciam máquinas programadas para expor para fora apenas seus ensinamentos, nada mais do que isto. Não existira calor humano entre os outros, Christine percebia que o mundo em sua volta estava se tornando um espaço aonde as pessoas queriam executar seus papéis sem ligar com seu próximo.

Isto angustiava Christine, apesar do pouco tempo que tinha para fazer outras atividades, gostaria de poder respirar o ar de lá de fora, pintar, compor canções em seu violão e andar de skate com sua melhor amiga. Mas estava bem lá no melhor lugar do mundo, como ela chamava, a biblioteca, e esta entre os livros era está em comunhão com si mesma, eles pareciam os melhores amigos do mundo, poderiam responder suas reflexões, embora outras não, mas ela já tinha percebido que nem tudo se responde com palavras.

Fazendo juntas o trabalho de Geografia, Talita e Christine começaram a vasculhar montanhas e montanhas de livros dentro da biblioteca, sabendo que teriam que fazer cada uma de suas descrições em separado.

Exaustas depois de horas de estudo, ambas deram uma pausa para fazer um lanche e então a mãe de Talita ligou em seu celular pedindo que ela fosse para casa, teria que ajuda-la em alguns afazeres domésticos. Infelizmente elas não concluíram suas pesquisas como deveriam, mas haveria mais um tempinho para fazê-lo, embora o tempo parecia correr cada vez mais rápido, quando mais cedo concluísse-o seria melhor.

Christine então resolveu continuar seus escritos sem sua amiga, estava tarde mas não haveria o que se preocupar, dava para voltar pra casa tranquilamente pois morava próximo e despreocupada porque seus pais nem sempre a davam atenção ou se importavam em saber como e aonde ela estava, eles passavam o dia inteiro trabalhando e não davam a mínima mais pra nada, só vinham pra casa descansar e isto não fazia para ela muita diferença em ficar até um pouco mais tarde na biblioteca.

Na estante do lado esquerdo de sua mesinha, haviam livros e enciclopédias sobre diversos lugares do mundo. Christine se levantou e foi olhando um por um, cada um mais diferente e cheio de detalhes a deixando mais curiosa, estava cansada de tanto escrever e sentiu que talvez percorrendo um pouco entre as estantes a faria pensar e ter novas idéias.

Olhando em volta dos livros, ficou encantada com os que mostravam mapas de diferentes cidades do mundo, cada um mais belo do que o outro. De repente algo a veio chamar a atenção, o livro do alto da estante parecia tão grande e tão ofuscante que logo não pensou em mais nada e veio a curiosidade em poder tocá-lo. Aquilo lhe intrigava: o livro estava no topo mais alto da estante embora poderia ser possível que fosse tocado, mesmo que pudesse se arriscar, mas para que teria medo, a única coisa que poderia acontecer era um tombo entre os livros ou nada demais, ou melhor, ela haveria de ter cuidado para que isto não acontecesse.

Christine subiu em uma cadeira e esticou o braço para tentar alcançar o livro e não conseguiu. Tentou mais uma vez e nada. Pegou outro livro da mesma estante que ficava mais embaixo e tentou afasta-lo para ver se conseguiria puxá-lo. Tirou os sapatos e decidiu apoiar-se na estante até por fim chegar no alto bem mais próximo do livro. Ele era todo azul cintilante e tinha letras douradas, parecia um livro de contos de fadas, embora estivesse na estante dos livros de mapas e de assuntos geográficos.

Finalmente, Christine com seu braço mais esticado o quanto mais podia, insistindo em tocar naquele livro, sentiu sua capa na ponta de seus dedos e por fim agarrou-o máximo que pudia. Ficou com medo desabar junto com a estante mas ao tocar no livro percebera que era um livro sobre algum assunto geográfico, fazia sentido, tinha um grande mapa em sua capa e apontando um castelo lindo bem no meio, cheio de verde ao redor. Um livro digamos que bem diferente do que tudo já vira antes.

O nome da cidade encontrado no livro se chamava Barbarella, nunca havia ouvido falar que existira uma cidade com este nome, mas estava lhe parecendo muito real para seus olhos.

Assim que puxou o livro, ele veio a cair no fundo da estante, Christine se inclinou e aquilo que parecia uma estante qualquer, viu que havia entre os livros uma passagem secreta, como um pequeno túnel, ao mesmo tempo que tentara resgata-lo para suas mãos, sentiu algo como se fosse desmaiar e sendo tomada por uma luz grandiosa e de cor lilás, ela foi parar dentro daquela passagem secreta e desmaiou como quem adormece num sono profundo.

Quando acordou, Christine sentiu como se estivesse despertado de um longo sono, parecia quando dormia nas tardes de fim de semana, seu único tempo de descanso que podia ficar horas em seu quarto em casa e poder se livrar um pouco dos livros escolares.

Sentiu uma mãozinha gelada tocando-a em seu rosto, quando ela olhou era um pequeno duende em seu lado, que parecia uma pequena criança curiosa e confusa com sua presença. Ele perguntava coisas para ela que não faziam sentido. Foi então levada de carruagem por mais outros duendes, todos felizes cantando em sua volta, em destino a um grande castelo que governava a cidade distante de Barbarela, era assim que era chamada a cidade dos duendes. O rei duende a recebeu como alguém tão importante para sua realeza, numa recepção nobre e cheia de reverências e Christine sem entender absolutamente nada, foi reverenciada como a salvadora de uma nova era que se iniciava em Barbarella.

Os duendes explicaram a ela que a muito tempo atrás, naquela terra nada, mais nada mesmo, nenhum outro fruto, semente ou algo que pudesse ser plantado poderia dar certo ou ser colhido para a sobrevivência de todos. Tudo que tentara ser cultivado virara cinzas e para a tristeza de todos a terra de Barbarella era a mais triste de todas as tristezas da Terra. Uma bruxa malvada teria roubado um grande sábio e seu amuleto que havia dado de presente a sua namorada, uma linda fada dos campos, ela era a salvadora da natureza, dos animais e de todos os duendes daquela região. A bruxa roubara o amuleto e matara a pobre fada, deixando Barbarella em ruínas, causando para todos, desespero e destruição.

Uma grande luz enviada pelo grande mago sábio foi uma nova tentativa para a terra de Barbarella ser salva e então aquela luz trouxe por volta do maior jardim da terra dos duendes, aonde eles passavam os fins das tardes conversando ou tomando sol, viram dentro deste grande foco de luz uma fada em forma de menina adormecida e todos passaram a acreditar que aquele era o sinal de paz enviado para resolver todos os problemas de Barbarella. Com a chegada de Christine inesperadamente numa luz, os duendes em festa, cheio de alegria, a cidade voltou a ser como era antes, eles voltaram a acreditar em si mesmo, Barbarella ficou mais colorida, mais feliz e mais cheia de harmonia.

O que Christine desejava agora era voltar para casa e não entendia o por que estava naquele mundo desconhecido. O que a deixava tranqüila era que em sua volta parecia o lugar mais belo e mais feliz do mundo. Todos a percebiam, todos admiravam sua imagem, todos celebravam a sua importância existencial, algo que jamais teria sentido.

Christine despertou entre livros caídos no chão da biblioteca, já era noite e tinha que voltar para casa, já estava bem tarde. Naquela noite complementou seus escritos para entregar seu trabalho de Geografia no próximo dia. Deveria ter procurado o tal livro que tanto havia insistido em pegar mas quando despertara no meio de tantos acabou esquecendo e indo logo para casa.

No dia seguinte Christine encontrou com sua melhor amiga e explicou o acontecido, ambas então foram juntas para a biblioteca antes da aula de Geografia a qual apresentariam seus trabalhos. Queriam entender o que tivera acontecido, mas ao olhar na estante, vasculhando livro por livro, não o encontraram. Christine foi até o alto da estante com ajuda de sua amiga e na no topo mais alto, aonde encontrara no dia anterior aquele misterioso livro, só haviam velhos livros e Atlas geográficos empoeirados. Tudo parecia comum, estavam apenas diante de uma estante velha como outra qualquer, sem nenhuma passagem secreta que Christine havia visto e caído junto dentro junto ao livro.

As apresentações dos trabalhos de Geografia começaram, a melhor amiga de Christine apresentara primeiro, em seguida foi a vez dela que conseguira exibir seu trabalho de uma maneira tão clara, tão real, tão extraordinária, fazendo a todos ficarem maravilhados e conseguindo assim a nota mais alta da sala.

Christine voltou algumas vezes com sua amiga para procurar aquele livro mesmo nunca mais tendo o encontrado, com isto começou a acreditar que pudera ter sido um sonho ou não, mesmo assim sentiu-se mais forte diante de sua vida, acreditando mais em sonhos e o que eles possam representar para si, vendo que somos capazes em dar vida a todos eles.

Não importa em que se acreditamos em sonhos ou em fantasias, mas que devemos primeiramente acreditar é em nós mesmos, em nossa imaginação e no potencial que temos dentro de cada um de nós.

Devemos acreditar enfim, em nossa importância existencial para si e para todos, junto às simples ações que podemos fazer o bem e a salvação que podemos fazer para muitos, tentando quebrar barreiras e fortalecer cada vez mais nossas vidas. Acreditar, sempre, nunca deixar de acreditar, que podemos trazer um novo sentido para tudo e para todos. Basta mesmo, que tenha ciência disto: acredite!


(Joyce Martins)