Sean morava em Dublin na Irlanda. Era um nativo de uma beleza bucólica: cabelos morenos, pele cintilante, olhos azuis, extrovertido e louco, alucinado pela poesia e música. Veterinário e apaixonado por animais, aliás o que mais me fez admirá-lo desde início. Sean tinha certeza do prazer do que sua atividade lhe proporcionava.
Sou uma norte-americana bastante típica. Levo o costume consigo, de batatas-fritas à compras em lojas de departamentos à grifes de luxo em segunda mão. Trabalho desde adolescente com Educação Infantil e acho isto maravilhoso. Atualmente sou psicóloga e continuo dando aulas em duas Universidades bem conceituadas em São Francisco.
Sou uma norte-americana bastante típica. Levo o costume consigo, de batatas-fritas à compras em lojas de departamentos à grifes de luxo em segunda mão. Trabalho desde adolescente com Educação Infantil e acho isto maravilhoso. Atualmente sou psicóloga e continuo dando aulas em duas Universidades bem conceituadas em São Francisco.
Em início de relacionamento, tínhamos que lutar com a barreira da distância. Como Sean só tirava férias no verão, era o único momento que podíamos estar pessoalmente juntos. Até lembro a minha primeira viagem a Irlanda. Verão, 1998. Estava em excursão num grupo enorme de estudantes da Universidade e como podem pensar, a coisa mais comum era se encontrar um bar de esquina aberto, onde muitos irlandeses e estudantes de diversas partes do mundo costumavam se reunir e tomar galões e mais galões de cerveja. Até por um lado entendo, Dublin estava realmente fria, mesmo em pleno verão, acredito que esta era a forma deles se aquecerem e de muitos, passarem do limite da razão.
Fui à um típico bar irlandês, onde também funcionava um Café muito bem freqüentado da cidade. Muitos famosos da música já haviam passado por lá como também artistas locais ganhavam alguns trocados mostrando sua arte e gosto pela música. As pessoas passavam horas olhando e fotografando. O autógrafo do Bono era visto como uma divindade e as pessoas disputavam para olhar e fazer elogios ao músico. Realmente ele sempre mostrou-se fantástico e humano, assim como o povo irlandês demonstravam a ser, algo que levavam dentro de seus corações.
Sentada, peço um café e vejo adiante num pequeno palco, um jovem de cabelos morenos, pele cintilante, olhos azuis, cantando de uma maneira encantadora ao som de um violão acústico. Ele tinha uma voz incrível e entorpecente. Foi aquilo que mais me chamou atenção. Realmente ele cantava muito bem. E que olhar ele tinha. O mais curioso era seu sorriso, único, de um jeito tímido, parecia que sorria através daqueles olhinhos cor do mar. Foi a partir daí que nossos olhares se entrelaçaram timidamente e logo já estávamos nos chamamos de nomes carinhosos, algo que pode parecer ridículo quando se está apaixonado, mas para quem sente, não é.
Durante aquele verão irlandês, fomos nos conhecendo, até mesmo estendi a viagem para conhecer mais aquele universo bucólico e de como era viver na Irlanda, toda sua paixão pela vida, artes e música.
A paixão por Sean tomou-me conta e ele tinha se tornado um universo singular em minha vida, uma estrela cadente, um brilho a mais para mim.
Ele tinha suas particularidades e por vez mostrava-se extremamente misterioso. Mas aos poucos o consegui desvendar, como uma mágica de circo em pleno picadeiro às crianças.
O verão acabou e tive que regressar aos EUA e com muita tristeza não poder levar meu querido Sean em minha bagagem.
Na continuidade de minhas atividades, o tempo foi passando e nos comunicando com todas as formas possíveis e impossíveis. Glória aos deuses pela tecnologia! Não sei que seríamos sem poder contar com ela. Longas e longas horas no telefone, Internet, cartas e um saldo devedor imenso no fim do mês, mas gratificante, pois por amor, muitos acabam fazendo de tudo para estar juntos e não existe valor ou nota simbólica que especifique tudo isso.
O trabalho nas Universidades foi reiniciado. Sean vinha em alguns fins de semana para cá ou quando tirava folga da sua clínica e era algo absolutamente maravilhoso. Ficávamos em casa, enquanto ele cuidava de mim, cantando ou praticando suas receitas ao nosso jantar. Fazíamos amor frente à brisa do mar e acordávamos abraçados com o canto dos pássaros. Nos fins de tarde, íamos para próximo do lago e tomávamos chá quente com canela. Assistíamos juntos ao pôr-do-sol. Ele sempre levantava mais cedo e quando não estava mais na cama e quando percebia ao lado, sempre encontrava um de seus bilhetes me dizendo as palavras mais doces deste mundo ou uma rosa vermelha perfumada. Ele era um admirador da flora e fauna, assim como eu também.
Tudo era tão sublime e digno ao lado de Sean. Não havia cansaço ou rotina. Mentalizava sempre sua imagem até mesmo poder vivenciarmos juntos, como um casal de idosos passeando de mãos dadas, perto do mar. Tudo era tão sublime, tudo era tão mágico, assustadoramente perfeito.
Era Dia dos Namorados, em uma de minhas outras viagens para a Irlanda, quando Sean estava naquele pequeno palco, daquele mesmo bar o qual nos conhecemos. Ele começou a cantar, uma nova canção, intitulada de “Lily”. Meu nome, meu significado. Diante de todos, aquele irlandês tinha feito uma declaração a sua amada e esta era eu, que estava na frente de todos com lágrimas nos olhos de tanta emoção. Ele se levantou, parou de cantar e me deu um beijo demorado, fazendo todos os anjos do céu cantarem a nossa volta. Sem palavras a descrever, apenas o brilho de uma só emoção.
No presente, tudo isto não passa de boas lembranças. O tempo levou embora aquele amor e muitos outros horizontes surgiram em vão. Mas a imaginação continua funcionar naqueles instantes mágico, sempre quando fecho meus olhos com intensidade naquela mesma imagem, na mesma onda ilusória de sentimentos. Como numa canção embalada pela pureza, pelo lirismo. Onde um ser apaixonado, face a face, toca seus lábios com a mais incrível intensidade, coberto de sonhos e expectativas.
(Joyce Martins)
No presente, tudo isto não passa de boas lembranças. O tempo levou embora aquele amor e muitos outros horizontes surgiram em vão. Mas a imaginação continua funcionar naqueles instantes mágico, sempre quando fecho meus olhos com intensidade naquela mesma imagem, na mesma onda ilusória de sentimentos. Como numa canção embalada pela pureza, pelo lirismo. Onde um ser apaixonado, face a face, toca seus lábios com a mais incrível intensidade, coberto de sonhos e expectativas.
(Joyce Martins)