Num lugar tão distante, onde nenhuma outra pessoa deste mundo poderia está, morava uma bruxa solitária e dona de sua própria casinha. Todos os dias descia para os campos e suspirava entre as rosas, caminhava entre os rios e colhia frutas para incrementar suas refeições.
Certo dia, olhando em sua bola de cristal viu um homem espelhado nela. Ele era bonito, com olhos amendoados, cabelos lisos, forte e com um sorriso incrível, estava lá como quisesse tocá-la. A bruxinha fechou os olhos e os abriu novamente e lá ainda estava aquele homem de olhar enigmático, até desaparecer sua imagem em sua bola de cristal, como purpurina dourada dissolvendo no ar.
Descendo do monte ao lado aonde morava, ficava horas olhando para o horizonte e perguntando para si mesma sobre o sentido da vida, a bruxinha adormeceu entre margaridas.
Por um certo instante, sonhou que estava num novo mundo, num novo horizonte, aonde o amor era presente e todas as pessoas eram felizes. Sentiu seu cabelo sendo tocado e alguém falando baixinho em seu ouvido “Acorde bela, acorde!”. Mas aquele sonho era irresistível, impossível de querer despertá-lo. Quando aquela voz insistente a continuava tentar acordá-la, a bruxinha abriu seus olhos e viu diante de si a criatura mais deslumbrante de toda terra, alguém tão incrível que jamais vira antes.
Seus olhos se encontraram, sua respiração estava ofegante e assustada, aquele homem diante de seus olhos e de todo aquele horizonte, era o mesmo homem que aparecera em sua bola de cristal, na noite passada. Ele havia se perdido caminhando horas pelos montes, estava cansado e tudo que mais queria era um abrigo, comida e dormir por horas.
Na casinha da bruxinha, enquanto estava em seu descanso, ela preparava deliciosas comidas, arrumava a mobília e tomava um banho com ervas, a deixando energizada e bem disposta.
O que mais a deixava feliz era aquela presença inexplicável daquele homem, como um príncipe que havia se perdido de seu castelo. Mas ele não era um príncipe. Sentada nua ao lado de sua cama, a bruxinha contemplava a presença de Edward, este era seu nome, como podia ficar horas o admirando e fazendo carinho em seus cabelos, até dormir do seu lado, entre seus braços.
Viveram juntos por muitos e muitos anos, fazendo amor todas as manhãs por horas até ficarem exaustos, tomando banho juntos, saindo para olhar o horizonte, era a melhor sensação que a bruxinha poderia ter em sua vida, seu amor em seus braços, olhando o mais belo horizonte da terra, era a mais bela perfeição! Pela noite, ele preparava o jantar e ela enfeitava a casa com rosas e velas aromáticas, incensos de jasmim e sândalo perfumavam sua volta, dormindo abraçados, depois de muitas horas de amor, adormeciam.
Depois de tantos anos, Edward resolveu descer do monte e ir à cidade, deixando a bruxinha em prantos e já desesperada com saudades de seu amado. Dissera a bruxinha que não demoraria, mas não foi exatamente como prometera. Passaram-se semanas, meses e mais meses. A bruxinha sentia-se triste, sozinha, como se aquilo tivesse sido apenas um sonho ou que Edward não tivesse a amado de verdade, encontrava-se novamente sozinha dentro de seus pensamentos, mas pensava em Edward, um dia ainda voltar para seus braços.
Não conseguira se concentrar em sua bolinha de cristal, decidira descer também aos montes, mas insegura, a bruxinha tivera medo de uma notícia ruim de seu amado.
Finalmente tivera a revelação: Edward havia ido ficar com sua namorada, que havia abandonado depois de muitas discursões no passado. Haviam terminado a relação, mas agora estavam juntos novamente e havia mentido para a bruxinha do Norte.
Enfurecida, a bruxinha não sabia o que fazer, triste e enlouquecida pelo fato de ter sido traída e enganada, era a pior coisa que se poderia passar nesta vida. Deveria bolar um plano, um feitiço, assim pensou, uma, duas, três vezes e teve a genial idéia de dar o troco àquele que a abandonou sem explicação.
A maldição por um feitiço dado pela bruxinha havia sido feita e ela tentava esquecer o homem que amou durante um grande tempo de sua vida, acreditando que tudo era uma verdade. A bruxinha era poderosa em seus feitiços, alías era uma bruxa e não iria deixar aquela situação como estava.
Edward e sua namorada, uma garotinha de classe média e com uma mente completamente fútil, haviam se reconciliado e viajaram num fim de semana para o Sul em busca de ficarem juntos e se divertirem com as festas de meio do ano.
Numa noite nublada juntos numa praça conversando, a chuva começou a cair e correram juntos, tentando se proteger dos trovões, até um raio acertá-los em cheio, principalmente em sua namorada, deixando-a somente em cinzas. Edward, machucado, desmaiou e ao mesmo tempo a bruxinha em sua casinha no monte havia sentido o acontecido e pulou depressa para socorrê-lo, teria que fazer alguma coisa para ajudá-lo. A bruxinha tomou Edward em seus braços, chorando e abraçando-o debaixo da chuva, o apertando fortemente, olhando em seus olhos o beijou. Infelizmente não se podia fazer mais nada. Edward olhando para a bruxinha, naqueles olhos brilhantes que ela havia se encantado, fecharam-se num sono profundo e eterno.
Anos se passaram a bruxinha ainda lembrava daqueles dias mágicos ao lado do homem que parecera ser o amor de sua vida. Ela havia construído um jardim com as cinzas de Edward ao lado de sua casinha, aonde brotaram as mais belas margaridas jamais vistas.
Se retirando para dentro de casa, onde estava mais protegida da chuva que caia, a bruxinha sentou-se na poltrona, segurando uma xícara de chá na mão e tomara em seus braços uma linda criança; seu pequeno ser, filho de Edward, aquele que havia amado tão intensamente mas que a traição a fez tentar esquecê-lo e se superar de tudo, abrindo sua mente para um novo pensamento, uma nova vida, ao lado de um novo homem, junto ao seu filho, num novo horizonte de amor, mais sincero e sem mentiras, sem as mágoas que fazem marcas profundas dentro do coração.
(Joyce Martins)
(Joyce Martins)