_VIVENDO COM O CANTO DOS PÁSSAROS_
Há muito tempo atrás numa montanha distante situada no Sul dos Alpes mais gelados da Terra, um grande urso marrom vivia sozinho a muitos e muitos anos, cultivando seu espaço, seu lar, seu caminho, como se fosse o lugar mais especial do Planeta.
Golbert acordava cedo e a primeira coisa que fazia era cumprimentar suas amigas rosas; suas amigas de tantos e tantos anos, elas eram de todos os formatos, cores e tamanhos, faziam o o encanto naquele espaço, dando mais significado àquele lugar. A beleza delas juntas era como despertar do raio mais bonito do sol, juntamente o canto mais bonito dos pássaros.
Por falar em pássaros, vários deles habitavam aquela montanha, Golbert tinha amizade com cada um deles: Eram andorinhas, sabiás, cotovias, canarinhos, pombos, beija-flores, tantos e mais tantos das mais variadas cores, espécies e tamanhos. Cada um com seu canto, cada um com suas particularidades.
Várias outras espécies também povoavam a Montanha do Céu Estrelado, como era chamada, entretanto a espécie de urso existente lá só era mesmo Golbert.
_UM LUGAR ENCANTADO_
Houve um tempo em que o Homem começou a se revoltar contra ele mesmo, contra a Humanidade e contra toda a natureza. Tudo começou a desaparecer, até mesmo ele próprio. A muito tempo atrás existiam milhares de espécies de ursos, somente havia restado Golbert em sua montanha. Ele era filho de sua terra, o filho da natureza e já havia se acostumado em viver sozinho na companhia de poucas outras espécies restantes do Planeta.
Aquele era mesmo um lugar encantado. Pela manhã, Golbert e seus amigos pássaros tomavam café juntos a beira do lago, junto as hienas e aos pequenos animais. “As hienas são engraçadas”, dizia Golbert, elas sempre tinham um motivo para estarem rindo ou fazendo piada de tudo em que viam.
As cotovias cantavam, em tons agudos como um sinfonia, os coelhos dançavam e brincavam de fazer montanha deles mesmos, com muitas gargalhadas, até mesmo o velho Leão da Floresta e sua senhora Leoa se reuniam na beira do lago todas as noites e tomavam vinho juntos ao luar. Golbert já tinha ouvido falar que os humanos chamavam isso de “romântico”.
No final da tarde, depois de um grande descanso de urso, Golbert saiu para caçar. Sim, caçar, mas frutas silvestres, gramíneas de sabor de doces e leguminosas de sabores de morango e chocolate. Naquele mundo dos bichos em harmonia era proibido matar-se uns aos outros e se alimentar da carne de seu amigo. Eles não precisavam disso, tinham tudo que queriam e necessitavam. A Montanha do Céu estrelado era absolutamente abençoada pelos Mensageiros das estrelas e sempre um de seus Guardiães vinham e traziam com sua varinha de condão o que pedisse e eles tornavam real seus desejos.
Pela noite, Golbert ia para sua casa de cor amarelada, de janelas azuis com um telhado marrom, com uma grande chaminé e atrás observava-se uma linda macieira plantada bem mesmo aos fundos. Ele gostava mesmo de ficar sozinho deitado no telhado contado estrelas e se comunicando com elas. Elas respondiam o que ele queria saber, todas as perguntas que vinham de dentro de seu coração. “Quem disse que as estrelas não são capazes de nos ouvir?”, pensava Golbert, ele admitia que elas eram mesmo capazes de muito mais do que isto, são mágicas e o faziam companhia, protegiam e além de tudo, iluminavam todo este céu imenso ao seu redor.
“Ah que bonito”, suspirava Golbert, que estava quase prestes a dormir e quando não estava frio, adormecia ali mesmo em seu telhado de frente às estrelas e acordava com o canto dos seus amigos pássaros.
_EM HARMONIA, EMBORA ALGO ESTIVESSE FALTANDO_
Quando chegou o Verão, o Sol sorria contente e brilhava de alegria cada vez mais forte, as rosas em seu canto de agudos sonoros com inúmeras e inúmeras canções, as quais eram capazes de fazer toda a Montanha do Céu Estrelado cantarem juntos e virar uma grande festa. Golbert aproveitava esta época para tirar férias e se mudava para o Vale das Orquídeas, aonde gostava de passar o dia cultivando frutas e colhendo mel, onde se deliciava comendo deitado debaixo das árvores. Elas riam muito e se divertiam cada vez mais com a presença daquele urso marrom todo melado de mel e parecendo tão feliz.
Realmente Golbert se sentia feliz, que não se sentiria vivendo em mais perfeita harmonia junto com seu habitat? Aquilo era mágico e ele não estava apenas sonhando, era mesmo sua vida, abençoada pelos Céus das Estrelas Brilhantes. Infelismente sentia que algo lhe faltava: Golbert já estava um urso quase adulto e vivia sozinho, mesmo com tantos amigos ao seu redor, entretanto tinha momentos de grande solidão, horas de pensamentos intermináveis. Na verdade ás vezes ele se sentia angustiado, ao mesmo tempo refletindo alguma coisa que poderia existir a mais em sua companhia, só não sabia como descrever o que era.
_NO REINO DA MONTANHA DA CORUJA DO OESTE_
No Reino da Montanha da Coruja do Oeste, vivia Dayse, uma ursa rosa da mesma espécie de Golbert. Ea assim como ele, viaia em uma montanha a qual a floresta tinha muito de seus encantos, só uma única diferença: estava devastada. A muito tempo atrás, o homem tinha habitado aquele lugar em busca de devastação e de roubo a própria natureza.
O lar de Dayse era feliz, embora sozinha, ela cultivava o máximo que podia para sobreviver, tinha rosas cintilantes e uma horta de melancias voadoras. Houve um tempo que um eremita muito velho pesquisou que naquela região aquelas simples melancias eram capazes de voar através de todo espaço, só que ninguém tinha testado aquilo para ver se era mesmo verdade. Com o tempo passado, só se restou a lenda e Dayse portanto, não conhecia mais nada, além de sua montanha e sua casinha próxima a um riacho das Águas Azuis Espelhadas.
_DAYSE E UM ACONTECIMENTO INESPERADO_
Um dia estava no riacho conversando com suas rosas, Dayse também as cultivava assim como Golbert e decidiu visitar o Vale das Melancias Voadoras, aonde próximo das hortas tinha uma deliciosa espécie de pêra a qual adorava comer. Era uma manhã fria, quando aquecida em seu cachecol lilás, Dayse suspirava baixinho olhando o céu com mil perguntas em sua mente e ao mesmo tempo se deliciava ao cortar com seus dentes um pedaço de uma pêra silvestre. Sentada em uma das melancias, pensava quando aquela terra tinha sido um dia florida e cheia de vidas, hoje restava apenas tão poucas coisas. Tinha passado uma infância feliz ao lado de seus pais e amiguinhos em toda a montanha, que infelismente o Bicho Mau do Homem levou-os embora, restando poucas espécies e para muitos, a solidão e a escuridão.
Era apenas o que pensava, embora Dayse naquela manhã não queria se sentir triste, mesmo sentindo algumas lágrimas suas caindo sobre seu cachecol lilás, o que ela queria mesmo era sentir o gosto de cada mordida em sua pêra silvestre, era como cristais açucarados que se dissolviam em sua boca.
Algo estava acontecendo quando Dayse comia sua fruta.Uma das melancias exatamente a qual ela estava sentada começava a se mecher, sem que ela podesse perceber. E foi mexendo, mexendo e cada vez mais e de repente Dayse olhando para o chão percebeu que seus pés não tocavam em mais nada e estava definitivamente: Voando! Sim, voando, voando e cada vez mais alto! Cada vez mais alto e bem alto! O mais distante, o mais alto, o mais além do que poderia imaginar! Estava assustada mas não sentia medo algum, era como se sentisse a sensação mais incrível que jamais teria sentido antes na vida.
Percorrendo todos os ares, espaços, horizontes. Vendo sua casinha lá do alto tão minúscula como um botão de rosas ainda adormecido. E por falar em rosas, elas estavam lá olhando pro alto e cantando em coro, cada vez mais alto, com as mãozinhas para o alto, cada vez mais alto! Opa! Algo sentiu que estava tremendo e o medo veio a tona mas não deu tempo: Dayse estava definitivamente agora, caindo! Sim, caindo, cada vez mais para baixo, cada vez intensamente...para baixo! Ela gritava por socorro assustada e caindo cada vez mais até não sentir mais nada.
Como adormecida, Dayse foi levada confortavelmente pela Nuvem Guardiã do Céu Estrelado que a salvou e a trouxe para baixo, deixando-a dormindo tendo os mais belos e profundos sonhos por muito tempo.
_NA MONTANHA DO CÉU ESTRELADO_
Era Inverno na Montanha do Céu Estrelado, as árvores se reuniam para fortalecer por causa do frio, os pássaros tiravam férias para visitar seus parentes distantes e para as áreas mais aquecidas, as hienas, os coelhos, os esquilos, enfim, todos se recolhiam em suas casinhas, cada vez mais tentando se aquecer, a se proteger de uma tempestade inesperada.
Golbert ficava dentro de casa próximo a sua chaminé e protegia as suas amigas rosas em seu porão, a maioria delas gostavam de ficar ali, se sentiam mais protegidas, porque lá fora poderiam congelar de frio e nunca mais poderem cantar como faziam.
Quando a Primavera chegou, as rosas, como sempre, caminhando de mãozinhas dadas, retornaram aos seus lugares, fazendo um grande canto, uma grande melodia, em homenagem aquela estação que tantos amavam. Os outros amiguinhos também voltavam para seus lares deixando a Montanha do Céu Estrelado mais colorida, mais alegre e Golbert também mais feliz.
_O ENCONTRO DE DAYSE E GOLBERT_
Ao passear próximo ao lago como sempre fazia pelas manhãs, Golbert viu algo se mexendo próximo as árvores.Não era de seus amiguinhos pássaros, nem esquilos brincando de esconde-esconde, nem as hienas contando fofoca uma as outras. Parecia mesmo algo maior e tinha...cheiro de rosas!
Ao olhar mais próximo veio um espanto: Estava de frente de uma linda ursa, assim mesmo como ele também era, da mesma espécie, embora sabia que ela não era daquela Montanha.estava certo que era o último urso da Montanha do Céu Estrelado, era feliz, embora sentia que algo estava lhe faltando mas não sabia o quê.
Dayse despertou daquele grande sono e ao abrir os olhos lentamente estava de frente de Golbert, que a olhava espantado e com grande admiração.
Parecia contos de fadas como acontecia com os humanos, mas pela primeira vez, Golbert sentia algo dentro de si, ora um ardor dentro do corpo, ora um frio dentro da barriga, o que o fazia tremer. Estava certo disso, estava apaixonado, sim pela primeira vez! E sabia que esta era a coisa que ele nunca tinha sentido antes, ele conhecia o sentimento do Amor ao próximo, a si mesmo e aos seus amigos, a sua natureza, mas era a primeira vez que sentia o Amor, da forma mais sublime e intensa que um coração pode sentir! Agora tinha Dayse e a vida parecia então agora completa e mais perfeita.
_A PERFEITA UNIÃO NA MONTANHA DO CÉU ESTRELADO_
Golbert e Dayse se casaram ao som das Rosas Cantantes num coro belíssimo e inesquecível. Os pássaros, as hienas, os esquilos brincalhões e até mesmo o velho Leão e sua esposa, a Leoa, brindavam com vinho feito pelas Árvores Mestras, juntamente com todos brindando, alegres, sorrindo, numa festa única em um novo sentido, em uma única cor vibrante no Céu.
O que faltava a Dayse algo se completava no Reino vivido por Golbert e a ele da mesma forma, era como se tivesse sido enviado pelos Mensageiros das Estrelas. Bem tentar contar ou acreditar que Dayse foi enviada por uma melancia voadora. Não era isso que importava, agora o mais importante é que todos estavam em festa, felizes, todos comemoravam e as estrelas brilhavam cada vez mais no céu.
O amor acontece em diversos sentidos, não importa como ele possa vir, não importa mesmo como ele ou ela serão, o que importa é o sentimento que possa guiar-los juntamente, sendo grandioso, como mãos dadas que passeam juntas, dentro dos corações em comunhão: Fazendo a Dayse e Golbert tornarem-se estrelas na infinita e mais bela imensidão deste céu iluminado, vivendo-os assim, felizes para sempre!
(Joyce Martins)
(Joyce Martins)