abril 17, 2011

ZEPHYRUS

Quando nasceu no meio de um enorme jardim, Amanda estava contente com o raio do sol que caía sobre si mesma e iluminava as rosas existentes ao seu redor. Todas estavam juntas numa direção contrária ao que ela havia nascido e bem distante da maioria, sem nenhuma chance para conversar ou esticar seus braços para poder tocá-las.

Amanda passava o dia na sombra de uma macieira e o fim de tarde chegava o pôr-do-sol, lindo, mais tão lindo, era a hora do dia a qual mais gostava, não conseguia entender como aquele espetáculo era tão grandioso, parecia está sonhando.

Apesar de tanta beleza em si mesma e está sempre ao lado de uma natureza rica e cheia de tanto brilho, sentia-se triste e sozinha, não tinha outra rosa próxima que a pudesse conversar, as outras que estavam distantes, na maioria riam dela, davam gargalhadas e a chamavam de palavras desagradáveis, isto a fazia a bela Amanda se sentir completamente triste e rejeitada.

Um belo dia, a senhora que cultivava o jardim veio com uma pequena muda e a plantou próxima de Amanda, quando viu isto, a deixou muito feliz e curiosa queria saber o que seria, uma rosa, um arbusto ou uma nova macieira? Não importava, o que a deixava saltitante, era que agora teria alguém para conversar e próxima, não iria se sentir mais sozinha.

A nova plantinha se chamava Victor, na verdade era um arbusto lindo que cresceria como uma linda roseira, ele era glamuroso, inteligente e o mais belo jamais visto, todas as rosas do jardim ficaram loucas por ele. Amanda tinha privilégio de ficar horas ao seu lado conversando, isto deixando as outras rosas morrendo de inveja. Os dias tinham se transformado em felicidade e esta agora era a palavra que Amanda conhecia, estava feliz e a companhia de Victor era o que mais importava. Tinha se apaixonado perdidamente por ele e tudo que mais queria eram ficar juntos e olhar o seu redor como estivessem flutuando sobre nuvens e estrelas cadentes.

O tempo passou e certa manhã houve um enorme temporal, a senhora que cuidava as rosas protegeu todas com um enorme guarda-chuva que as cobriam, livrando-as do frio e do vendaval que poderia deixá-las em pânico. Amanda e Victor também foram protegidos, só que em separados. Não dava pra ficar junto a Victor na pequena caixinha de madeira que a senhora a colocou, ele era grande demais e não conseguiria ficar dentro junto a ela. Mas mesmo assim, vendo-o em sua proteção contra a chuva, acenava e mandava beijos para ele e ambos se comunicavam através de seus olhares.

O tempo chuvoso passou, mas o imprevisto veio a acontecer. Todas as rosas saíram de baixo do enorme guarda-chuva assim como Amanda de sua caixinha de madeira. Já Victor teria sido retirado, aonde estava ele? Amanda olhava para seu lado e não via mais nada. Ele havia sido retirado, não havia nenhuma pétala, galho, folha ou nenhum vestígio de que existira ali um lindo arbusto que um dia se tornaria uma grande árvore linda que geraria lindas flores e valiosos frutos.

Amanda estava triste, chorava e sentia-se angustiada, Victor havia sido levado pela triste e injusta chuva do inverno que o deixou doente e o matou, não se conformava, queria que a chuva tivesse a levado também, não era justo está novamente como vivera antes, nenhum brilho, sorriso ou alegria, algo que desse motivo de poder esta feliz. Tristeza era agora seu nome, sua vida, seu fundamento e a solidão novamente a abraçava.

Dias angustiantes se passaram e sozinha pôs-se a orar para os deuses do céu os quais regiam aquele lugar. Pediu para que pudesse não mais sofrer e voltar a sorrir. Queria ter fé, apesar de que estava sem ela e não tinha mais forças para acreditar em seguir adiante. A tristeza era uma doença a qual teria tomado posse dela e queria que esta sua inimiga a deixasse em paz e pudesse conseguir forças para seguir adiante.

Certa manhã, as rosas distantes cantavam num lindo coro, numa manhã de domingo, quando todos celebravam a chegada da primavera, muitas rosas nasciam e as outras celebravam com entusiasmo, Amanda estava em seu cantinho adormecida e sem vontade de celebrar juntas as outras, mesmo assim não podia, estava longe, só conseguira ouvir os gritos e sussuros das outras lá que cantavam, sorriam e brincavam com tanta alegria.

“Viva a primavera, quem me dera poder sentir como és bela!”. Triste assim falava, quando de repente um vento suave tocou-lhe o rosto e fez surgir o que deveria ser um lindo arbusto, era um cactos cheio de espinhos, impossível de tocá-lo. Assustou-se Amanda que ao mesmo tempo curiosa queria saber quem era ele.

O cactus falava baixinho, ele era tímido, mas estava ao seu lado, ela se sentia esquisita com sua presença, ela era tão bela e ele uma planta tão estranha, tão espaçosa e tão difícil de podê-la abraçá-la, era assim que desejara cumprimentar seu novo amigo, que estava lá bem próximo dela, mas ele não tinha um jeito adaptável para poderem inicialmente combinar. Ou não?!

Ambos conversavam até tarde da noite, às vezes o cactus, com seu jeito tímido apenas ouvia o que Amanda tinha a dizer, ele às vezes adormecido, ela ainda continuava falando. Quando amanhecia era o acordava ou ficava vendo-o dormir e às vezes também adormecia em sua companhia.

Aquela planta de jeito esquisito tinha se tornado seu verdadeiro amigo e Amanda agora se sentia protegida. Com as ameaças de chuva, a senhora que cultivava o jardim transferiu todas as rosas para outro lugar melhor para que todas pudessem está mais confortável. Assim, Amanda e seu amigo cactus também foram transferidos e estavam agora juntos, cada vezes mais juntos. Houve um tempo em que os espinhos a incomodava, mas agora não sentira mais nada, aceitava como seu amigo realmente era, o mais que lhe importava é que agora não estava mais sozinha e tudo queria era sua companhia e sua presença tinha se tornado valiosa para ela.

Sob o pôr-do-sol, um novo e suave vento tocou fortemente Amanda e seu cactus, juntos olhando um para o outro, um beijo surgiu como a nascente do rio que fluía de da forma mais incrível a qual havia naquele lugar. Uma nova essência assim surgia, como uma explosão de estrelas e purpurinas, como luzes de vaga-lumes que iluminam o céu, como corações que pulam na imensa intensidade junto ao encontro de uma palavra que insiste em ser balbuciada: Carinho.

Estavam lá, abraçados, para a eternidade, Amanda e seu cactus que agora tornava-se um lindo lírio azul, raro e tão esplêndido, na imensidão do amor e da aceitação de que devemos compreender as diferenças, aceitar como realmente todos são, compreender que espinhos podem se tornar rosas ou que não devemos machucar a ninguém, somente devemos ver que existe uma essência valiosa dentro de nós e aquele que ousa a ser chamado “estranho” na verdade pode ser um lírio, uma borboleta ou senão um vaga-lume de asas iluminadas ou uma beleza desconhecida, que podem fazer nossas vidas as mais felizes. Amigos são anjos, que devemos aceitar e admirar a beleza de realmente como são, assim como você; pássaros que nos levam ao encontro do mar e ao mais belo e concreto horizonte das rosas e lírios azuis.

Sinta o vento da primavera que te toca e olhe ao encontro de si mesmo, sempre haverá um horizonte, sempre haverá uma beleza, o que és para alguém, és tão importante para imensidão deste universo de estrelas que nos cerca, brilhando, brilhando, brilhando, como as estrelas, eu e você, juntos, para sempre...


(Joyce Martins)




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*Zephyrus (latim) - vento que anuncia a primavera