Num fim de tarde, sentada numa mesa do Ludvine Caffe Bar, Marcelle escreve em seu caderninho de anotações, os afazeres de mais um dia de trabalho.
Trabalhar num café parisiense era como sentir-se respirar a mais bela arte francesa, como num filme de Godard. O cheiro da comida exalando pelo ar junto à névoa vindo de lá fora junto à bela vista das praças francesas, é tudo muito inspirador e extraordinário para Rafaela. Por muito tempo havia deixado para trás sua vida no Brasil e atualmente abraçava num novo horizonte à capital européia do amor.
Num lugar de tantos encantos, era costume apreciar num fim de tarde as pessoas largando do trabalho e indo em direção às praças floridas de Montmartre para tomar um pouco de ar, ler ou namorar de mãos dadas sob uma árvore cheia de frutas silvestres, sendo assim, um dia de muita tranqüilidade.
Todos os dias, Marcelle largava do trabalho e aproveitava o fim de tarde para encontrar seu namorado no Bosque das Rosas, onde costumavam se ver. Nestes dias de fim de ano, tudo que queria era está na companhia de Gustave, tinha se apaixonado perdidamente por ele e tudo que mais queria era está em sua companhia. Ele era como um príncipe em sua vida. O toque em seus cabelos e deitado em seu colo, apreciando juntos o horizonte, era a sensação que mais amava nesta vida, indescritível para Marcelle. Parecia que o muito parava e só existia aquele ser tão maravilhoso em sua volta, parecia que o universo conspirava somente àqueles dois seres apaixonados: Marcelle e Gustave, juntos sempre, como sinônimo de amor, um para o outro.
Tudo estava bem até que chegou um dia que Gustave teve que ir embora para sua terra natal. Marcelle ficou em lágrimas mas teve que compreender mesmo de coração partido. Sentiu muito a falta de seu amado, chegando a atrapalhar sua concentração no seu trabalho, só conseguia pensar em Gustave em nada mais. Mas tudo deveria voltar como era antes, a vida teria que seguir, mesmo estando distantes um do outro, teria que continuar a trabalhar e seguir em frente.
Realmente, a vida não pode parar um segundo, mesmo levando um amor no coração, bem próximo a ela em sua existência, mas fisicamente longe de seus braços.
O amor de Marcelle e Gustave surgiu como um típico amor de verão, um romance que para muitos acreditavam que seria algo passageiro. Mas todos se enganaram. Logo eles estavam verdadeiramente interligados um ao outro através do coração e por um amor intenso. Se fosse na época em que Marcelle morava com seus pais no Brasil, teria certeza que aquele romance não iria durar. Sua família sempre falando que nada lhe daria certo, mesmo após ter terminado sua faculdade de Ciências Políticas e ter recebidos altas propostas de trabalho. Marcelle tinha um objetivo mais adiante, seguir o mundo em defesa da humanidade, mas era algo difícil das pessoas entenderem bem esta sua proposta, era como se todas as escolhas de vida tivessem que ser determinadas pelos outros e não por nós mesmos. Ela queria fazer o que seu coração mandava e não pelos outros. E foi assim que fez, seguiu adiante com seu objetivo, mesmo com trabalhos menores.
Quando o verão chegou, todas as pessoas nas ruas continuavam percorrendo as ruas parisienses, mas de um ritmo mais alegre e frenético. Marcelle passava seu tempo de descanso antes do seu trabalho no Ludvine Caffe Bar, cultivando suas plantas em seu apartamento, na companhia de um lindo gatinho persa, chamado Faustin.
Tomando chá na varanda de seu pequeno apartamento, Marcelle escreve em seu caderno, o que sempre costumava fazer e gostava muito, colocando suas idéias e experiências sob o papel, sem a finalidade de ser lida por muitos mas como uma voz em forma de palavras para seu desabafo existencial.
Escrevia sobre situações que havia passado, escrevia relatos de que havia testemunhado, escrevia para aliviar o que havia passado, para conspirar junto àquele mundo que o cercava, como em seus sonhos adormecidos. Viver em Paris a fazia caminhar em nuvens, mesmo estando sozinha, estava ali, parada pensando na sua vida e em Gustave, mas havia de algum modo felicidade em sua volta, principalmente em seu coração recheado de amor e esperança, junto ao convívio tão sonhado de sua vida que agora se fazia independente.
Marcelle afirmava em seus pensamento que não havia mais companheirismo sincero neste mundo que vivia. Havia encontrado alguém especial, algo raro de se acontecer, porém não estava junto como realmente queria. Em relação às amizades, muitas vinham e muitas outras iam embora, muitas e muitas outras se tornavam distantes, frias e sem sentido. Como um coração que busca a companhia de alguém que suplica pela companhia de alguém, que somente é correspondido pelo desprezo, pela indiferença e pela frieza. O mundo em que vivemos, não se fabricam mais amores como antigamente, como nos filmes, nem mesmo aqui, nem mesmo lá, nem mesmo em Paris.
Tempos atrás, Marcelle havia conhecido um rapaz no Café que trabalhava, seu nome era Stuart, um típico americano que morava em Paris, não por muito tempo. No começo era divertido, Marcelle e Stuart saiam juntos para muitos lugares como amigos: Cinema no fim de tarde nas férias, parque de diversões às quartas-feiras, fim de semana juntos para caminhar ou andar de bicicleta, parando numa das praças de Montmartre para olhar e fotografar juntos o pôr-do-sol.
Marcelle sentia que não tinha melhor coisa no mundo do que está na companhia melhor do que está próximo ao seu melhor amigo americano, no entanto, que não chegue um dia que ele venha a mudar de personalidade, evitando suas ligações, mensagens, de colecionar belas desculpas que não pode sair por causa de está saturado demais com o trabalho (mesmo sabendo que isto não é verdade) ou preferir ao invés da companhia da melhor amiga ao cortejo de ninfetas fúteis e infantis, pelo sexo barato e de pior qualidade.
Quando parecia que o verdadeiro amor acabara de chegar, Marcelle sentiu que o destino o tinha feito ir embora, como se fossemos destinados à companhia do amor por apenas um pequeno espaço de tempo na vida. Pessoas vem, pessoas vão, estamos sempre à procura do perfeito e da pessoa ideal, mas percebe-se que este ser ideal não existe. Mas se corresponder junto a companhia do olhar e da atenção, fazermos sentir-se importantes, junto com as mais simples formas de expressão, isto é tão valioso, muito mais do que qualquer outra coisa. Seres de corações simples e de expressões valiosas nos faz sentirmos as mais felizes criaturas valiosas de espírito! Não existe algo melhor que vermos através dos olhos da existência que somos amados e importantes para alguém e quando isto é correspondido, uma maravilha às criaturas de corações que amam!
O mundo está cheio de seres sem almas, atualmente é dificílimo admitir uma vida com sentimentos, as pessoas preferem levar a filosofia de vida inescrupulosa e sem reciprocidade verdadeira.
Relatos, desabafos e pensamentos expostos ao papel, companheiro de muitas horas quando Marcelle estava inspirada e com a mente florida de visões naquele ambiente luminosa de arte e poesia que era morar entre os ares transcendentais de Paris.
***
O movimento das ruas caem com o passar do tempo, num pequeno fluxo, as pessoas transitam calmamente na chegada do outono, a estação mais bela em Paris, uma leve brisa surge num céu nublado que enfeita o horizonte florido das praças e clima romântico das estações do ano.
Próximo do canal Saint Martin, Marcelle joga pedras no lago despreocupada com o tempo e o que se passa ao seu redor. Tudo que quer é centralizar seu pensamento em si própria.
Marcelle não quer pensar em nada, nem no amor, nem no trabalho, nem nos amigos, nem do que havia deixado para trás. Só queria neste momento estender sua mão ao encontro do lago e sentir o barulho das pedrinhas tocarem às águas, como sempre fazia desde criança. Enquanto fazia isto, uma mão em seu ombro é estendida com uma rosa vermelha para que suas mãos a tocassem e sentir que o amor ainda estava no ar e sim naquele exato momento estava novamente de volta aos seus braços.
Juntos, Marcelle e Gustave seguiram distante e de mãos dadas, frenéticos, ao encontro do horizonte mais belo e florido. Em um fim de tarde de outono, à procura de uma estrada surpreendente e de encantos, abraçaram-se e tomaram um só destino, guiados pela harmonia do coração e da compreensão, nesta bela estrada de sonhos, chamada Amor...
(Joyce Martins)
(Joyce Martins)